quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Histopatológico de tumores de mama de cadelas – fazer ou não fazer?

E corriqueiro na prática clínico-cirúrgica o questionamento do médico veterinário na validade de enviar o produto de mastectomia para exame histopatológico. Muitas vezes esta indagação se deve ao conceito de que em casos de neoplasmas malignos, não há o que ser feito a não ser aguardar a recidiva ou a ocorrência de metástase.

A incidência de tumores mamários corresponde a cerca de 50% da totalidade de neoplasmas em cães. Estudos clínicos cirúrgicos demonstram que cerca da metade a 70% destes tumores são malignos.

Os clínicos e cirurgiões veterinários se valem dos conceitos básicos das neoplasias para nortear a conduta clínico-cirúrgica de manutenção ou exérese do tecido mamário doente, uma vez que estes conceitos tem forte correlação com o comportamento clínico e a malignidade do tumor, ou seja, tumores com crescimento lento, expansivos, não aderidos aos planos adjacentes e circunscritos são considerados benignos. Ao contrário; tumores com crescimento rápido, apresentando aderências aos planos adjacentes, caracterizando invasividade, necróticos e/ou ulcerados apresentam características malignas. Apesar de estas características estarem fortemente relacionadas ao comportamento do neoplasma, não podem ser tomadas como uma máxima. Tumores malignos podem estar escondidos em pequenos nódulos com características de benignidade.

Partindo do principio oncológico chamado progressão, pequenos tumores, inicialmente benignos (e monoclonais) podem, por alterações celulares vinculadas ao ciclo-celular, interações com a matriz extracelular, fatores endócrinos, ambientais, processos inflamatórios locais, etc... sofrerem mutações, criando clones celulares viáveis, com potencial maligno. A perda de capacidade apoptótica, proteínas alteradas relacionadas ao ciclo celular, deleção de componentes reguladores do ciclo celular e autoindução ao ciclo celular ou auto estimulação com fatores de crescimento produzidos pela célula, são exemplos de possíveis mutações que podem ocorrer durante a progressão de um tumor. O tumor mamário inicialmente benigno, i.e. monoclonal, passa a ser policlonal. O processo de policlonalidade é mais facilmente entendido, estudado e confirmado em neoplasias malignas e cultivos celulares.

Desta forma, pequenas lesões, clinicamente benignas devem ser tratadas com potencialidade de transformação maligna.

As glândulas mamárias de cadelas estão distribuídas em duas cadeias pára-mediais ventrais ao longo do corpo, sendo composta, cada cadeia, por cinco glândulas e respectivas papilas, distribuídas da região torácica até a região inguinal. Variações anatómicas podem ser encontradas, dentre elas glândulas e papilas extranumerárias e mais raramente agenesia de uma, ou algum par.

Existem algumas designações anatômicas, ordenando topograficamente os pares de mamas em cadelas, sendo uma delas a seguinte:
  • Primeiras mamas torácicas;
  • Segundas mamas torácicas;
  • Terceiras mamas torácicas;
  • Primeiras mamas abdominais;
  • Segundas mamas abdominais e
  •  Mamas inguinais.

Devemos lembrar que o tecido mamário é drenado por sistema linfático, tendo sua linfa escoada para os linfonodos inguinais, axilares e esternais internos, na dependência da localização da mama.

Estudos realizados, usando desde carvão coloidal à fluoresceína têm demonstrado as vias de drenagem linfática em cadelas, sendo verificado que as glândulas mamárias torácicas tem sua linfa drenada por vasos para os linfonodos axilares e external. As mamas inguinais e segundas abdominais tem drenagem direcionada para os linfonodos inguinais.

A espécie canina possui geralmente um linfonodo inguinal em cada lado, porém, devido às variações anatômicas podem ser encontrados dois ou três linfonodos adjacentes entre si.

A linfa das segundas mamas torácicas podem ser drenadas para regiões craniais e/ou para as porções caudais, desta maneira atingindo linfonodos inguinais e/ou axilares e esternais.  

Não há uma via exclusiva de drenagem linfática mama-linfonodo satélite, sendo que a linfa contida nos vasos passará por outros tecidos, incluindo outras mamas no trajeto até atingir o linfonodo, como exceção das mamas “terminais”, que terão sua linfa somente drenada para o nódulo linfático regional.

O entendimento do sistema linfático das mamas de cadelas tem fundamental importância no tratamento de doenças mamárias em cadelas. Canceres epiteliais tendem a se disseminar por esta via, e então, acometer o caminho para o linfonodo satélite, atingindo-o. A disseminação hematógena é tem menor ocorrência nos tumores epiteliais, ao contrário dos sarcomas que fazer desta via, sua preferencial.

Estudos em oncologia clínica são concordantes que o maior sucesso na terapia de canceres mamários é o procedimento cirúrgico em bloco com a remoção dos linfonodos regionais.

Mastectomias em bloco, submetidas a exame histopatológico têm mostrado alta eficiência, não apenas na caraterização do tumor primário (diagnóstico anatomopatológico), mas também na detecção de comprometimento de margens cirúrgicas profundas, laterais e metástases linfáticas, predizendo a probabilidade de recidiva e de metástases.

Ao exame histopatológico, com detecção de margens cirúrgicas comprometidas ou muito próximas do tumor, assim como o acometimento do linfonodo, permitem ao cirurgião optar por novo ato cirúrgico e ao oncologista decidir qual o protocolo terapêutico a ser adotado.

Fatores prognósticos também podem ser encontrados ao exame dos tumores, uma vez que existe correlação entre o grau de malignidade com outros achados, como invasividade tissular, vascular, índice proliferativo, resposta dos componentes da matriz extracelular, dentre outros.

Recentemente, veterinários cirurgiões-pesquisadores, sistematizaram a remoção de tumores mamários e constataram que nos casos de adenocarcinomas mamários, houve mais de 60% de envolvimento de musculatura esquelética abdominal.

Desta forma, existe a recomendação de remover o bloco de mamas com margens cirúrgicas de pelo menos dois a três centímetros de cada lado, conjuntamente com parte da musculatura reto abdominal.

Pesquisadores em oncologia tem se mostrado irredutíveis contra o procedimento cirúrgico em casos onde já podem ser detectadas metástases pulmonares, uma vez que a remoção dos tumores primários podem permitir que os secundários entrem em processo proliferativo acentuado por diminuição dos mecanismos de retroalimentação negativa sobre os mesmos, porém não levam em consideração o bem estar dos pacientes que tiveram os tumores primários removidos. Concordamos com tais oncologistas apenas nos casos onde o comprometimento metastático é suficiente para oferecer risco cirúrgico aumentado ou quando o paciente já se encontra em estagio terminal, não havendo nitidamente possibilidade de produzir melhora nas condições de vida do animal.

A grande maioria dos veterinários envolvidos em procedimentos de mastectomia por neoplasia, relatam a melhora da atividade física do paciente, ganho de peso e interatividade com os proprietários após o ato cirúrgico. Uma das possíveis causas é atribuída a remoção de moléculas produzidas ou evocadas pelo tumor, como por exemplo IL-2 (interleucina 2), IF-gama (interferon-gama), TNF (fator de necrose tumoral), entre outras, que tem atividade local e sistêmica.

Estudos oncológicos demostram que a taxa de sobrevida de animais mastectomizados com metástases pulmonares e sob terapia com doxorrubicina, podem não terem sido alteradas, contudo existiu melhor qualidade de vida dos pacientes e consequentemente dos proprietários. A melhoria da qualidade de vida de pacientes terminais (ou com esta probabilidade) deve ser almejada uma vez que é nossa obrigação profissional.

Sugestão de procedimentos frente à neoplasia mamária em cadelas:

·         Remova qualquer processo mamário neoplástico, por menor que seja;
·         Promova a mastectomia tendo em mente o sistema linfático das mamas, lembrando de remover no bloco, as mamas do trajeto. Caso a mama acometida seja a segunda abdominal, dê preferencia para mastectomia unilateral completa;
·         Amostre os linfonodos, isso é importante em termos prognósticos;
·         Lembre-se, tumores malignos podem acometer musculatura esquelética abdominal e que esta também deverá constar da peça cirúrgica;
·         Envie a peça cirúrgica para exame histopatológico em sua integralidade para que sejam avaliadas as margens. 
·         Use o recurso da quimioterapia.
·         Tenha em mente a qualidade de vida do paciente e de quem os acompanha.

segunda-feira, 27 de junho de 2011

Uso da Citocentrífuga em exames citológicos em medicina veterinária.

O objetivo deste “post” é esclarecer os colegas veterinários sobre o uso prático da citocentrífuga nas amostras de líquidos obtidos de pacientes na prática clínica veterinária, sem se delongar nos detalhes da física de fluídos e centrifugação.

Nossa citocentrífuga apresenta a capacidade de usar uma pequena quantidade de líquido para a efetivação do exame, sendo que os volumes podem variar de 0,2 a 1,0 ml, conforme a quantidade de células em suspenção na amostra. Este fato se deve ao uso de um meio absorvente entreposto à lâmina e funil de concentração.

É frequente na prática da medicina veterinária a obtenção de amostras de líquidos pleurais, abdominais, pericárdicos, sinoviais, lavados traqueobrônquicos, lavados orais, uterinos e de líquor com concentração muito baixa de células, o que, por vezes, impede a análise citológica e mesmo diferencial do fluído em questão, ou por não haver quantidade de células quantificáveis em uma extensão (esfregaço) ou porque as células em questão estão dispersas nas lâminas, impedindo sua caracterização e interpretação de forma adequada.

Em medicina veterinária, tem-se feito o uso da citocentrífuga, principalmente na avaliação do trato respiratório de equinos, porém o uso desta técnica é ampla e pouco explorada. Apenas poucos laboratórios fazem o uso deste equipamento devido ao custo do investimento.

A citocentrífuga tem a capacidade de produzir a concentração de células de um líquido em uma pequena região da lâmina de microscopia, permitindo a visualização do conjunto de células contidas no fluído e desta forma tornando uma amostra, que anteriormente não seria quantificável/qualificável morfologicamente, mais fidedignamente analisada.

O processo de análise das células obtidas por esta técnica deve ser criteriosa, pois com o processo de citocentrifugação, algumas alterações morfológicas podem ocorrer se o emprego da força e tempo de centrifugação não forem bem empregadas e que em nosso laboratório é minimizado pela relação, velocidade X tempo de centrifugação, uma vez que nossa máquina permite usar de 1 a 30 minutos à velocidade de 100 a 2000 RPM.

Para o uso prático e rotineiro desta técnica, fatores pré-analíticos devem ser observados, como:
- Enviar amostra fresca, conservada sob refrigeração, evitando o contato com o gelo;
- Enviar amostra líquida isenta de coágulos, e para tanto se deve fazer o uso de tubos de colheita, tanto sem conservantes quanto o tubo contendo EDTA.

Amostras isentas de EDTA produzem células com melhor qualidade morfológica, porém o EDTA é fundamental para evitar coagulação, principalmente em transudatos modificados e exsudatos.

IMPORTANTE! Lesões neoplásicas císticas não devem ter somente o líquido cavitário examinado, pois tais fluídos poderão conter apenas debris celulares (restos necróticos) e células inflamatórias, mascarando o processo neoplásico confinado ao tecido ou parede do cisto. Nestes casos o cisto deve ser esvaziado e serem produzidas lâminas, usando as técnicas convencionais de citologia aspirativa, obtendo-se material tecidual (parede ou tecido circunjacente) para efeito diagnóstico.

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Dividir material para envio ao laboratório. Posso?

Existem vários profissionais e proprietários que, em busca do melhor para seu paciente/animal, preferem realizar exames em mais de um laboratório para certificar-se do resultado.

Como médico veterinário e proprietário de cinco cães e um gato, posso entender a preocupação em querer resolver o problema logo, para o bem estar, tanto meu como dos meus animais, porém existem inconvenientes no processo de aliquotagem de amostras, tanto para análises clínicas como para anátomo-patológicas.

Peguemos como exemplo uma amostra de sangue para hemograma. Caso a amostra tenha sido colhida em um tubo com o anticoagulante correto e posteriormente, uma alíquota transferida para outro tubo com EDTA, após a melhor homogenização, o excesso de EDTA do tubo receptor causará interferência na amostra e consequentemente na análise clínica a ser realizada.

Continuando com o mesmo exemplo e tomando em conta que a amostra de sangue foi colhida em tubos diferentes, respeitando suas capacidades e proporção amostra x anticoagulante. Cada laboratório possui aparelhos hematológicos diferentes, mesmo sendo do mesmo modelo, marca, data de fabricação, etc., os aparelhos devem ser considerados distintos, pois podem se comportar de maneira diferente. As condições climáticas, temperatura da sala, reagentes usados e calibrações são fontes de “interferência” nas análises. O mesmo aparelho, mesmo com a melhor reprodutibilidade, pode gerar resultados diferentes (lógico que dentro de um coeficiente de variação conhecido), quem dirá aparelhos de locais diferentes.

Devido ao discorrido acima, cada laboratório deve ter seus próprios meios de controle de qualidade e traçar os valores de referência para as amostras que recebe.

Desta forma a comparação “ipsis litteris” entre análises de estabelecimentos diferentes não pode ser realizada, entretanto, deve existir relação entre os valores obtidos e os valores de referência.

Exemplificando: se uma amostra de soro canino normal for submetida à prova de AST por método colorimétrico em um laboratório X e para a mesma prova, por método cinético UV em outro, os valores estão completamente discrepantes entre si, porém devem estar dentro da referência estabelecida.

Laboratório X:
AST: 8 UI/L (referência: 5-15 UI/L)

Laboratório Y:
AST: 34 UI/L (referência: 10-80 UI/L)

Vejam, os valores obtidos não podem ser comparados entre si, porém em ambos os casos, encontram-se dentro da referência estabelecida pelo laboratório.

Se o resultado do soro for acima da referência no laboratório X o mesmo deve acontecer no laboratório Y.

Partindo do falso principio que amostras de fluidos corpóreos são homogêneas e levando em consideração o disposto anteriormente, não haverá “diferenças” na interpretação entre os resultados obtidos pelos laboratórios X e Y, desde que primem pela manutenção da qualidade e as amostras sejam exatamente as mesmas (colhidas, acondicionadas e tratadas da mesma forma). O mesmo não ocorre em amostras para exames histopatológicos.

Em anatomia-patológica, não deve existir o conceito que a lesão é homogênea.

Para uma compreensão mais fácil, vamos usar como exemplo testículos acometidos por processos neoplásicos. Pode-se encontrar em um mesmo testículo dois tipos de tumores, como por exemplo um Leydigoma e um tumor das células de Sertoli. Imagine o problema de discrepância entre os resultados se uma clivagem for produzida neste tecido, enviando um tipo de tumor para o laboratório X e outro tipo de tumor para Y.

Outro inconveniente frequente é enviar uma porção da mama para um patologista e outra para outro colega. Em uma mesma cadeia mamária podem ser encontrados tipos histológicos completamente diferentes de tumores, incluindo tumores de linhagens embrionárias distintas.

Fragmentos obtidos por atos cirúrgicos com o uso de eletro cautério podem favorecer a divergência de resultados, enviando a parte cauterizada e consequentemente necrótica para um laboratório e a parte viável para outro, desta forma um resultado será completamente inconclusivo.

Em anatomia patológica os tecidos obtidos devem ser encaminhados para um único lugar. Caso ocorra a necessidade de uma segunda opinião, o proprietário ou o médico veterinário responsável pelo caso tem todo o direito de solicitar blocos e lâminas para encaminha-los a outro patologista.

Enviar amostras de tecido clivados para lugares diferentes dão a falsa impressão de estar ganhando tempo. Perde-se mais tempo tentando resolver situações causadas pela divisão das amostras, do que solicitar uma segunda opinião após a emissão do laudo, além de que as técnicas de macroscopia são padronizadas e ambos os patologistas estudarão a mesma lesão histológica.

A segunda opinião é um direito do colega veterinário e do proprietário, visando o principal: o bem estar do paciente.

sábado, 14 de maio de 2011

Como faço para enviar materiais à distância?

Enviar materiais para exames histopatológicos ou citológicos estando em outras cidades ou estados é muito fácil, basta observar as indicações abaixo:

  1. Imprima uma ficha de solicitação do blog e preencha. Esta ficha deve acompanhar o material a ser enviado;
  2. Acondicione material de maneira apropriada (veja mais abaixo);
  3. Escolha a melhor forma de envio: FEDEX, SEDEX, motoqueiros...;
  4. Envie o material para:

CAIP – Centro Avançado de Imagem e Patologia Veterinária Ltda.
Rua Luiza Grinalda, 550 - Lj 04
Vila Velha – ES
CEP: 29.100-240
     5.  Mantenha com você o protocolo do envio.

ACONDICIONAMENTO DE AMOSTRAS PARA ENVIO À DISTÂNCIA - HISTOPATOLÓGICO

Após fixar o tecido em frasco de boca larga, resistente e bem vedado:

  1. Acondicione-o frasco em uma caixa resistente (pode-se usar caixas de papelão firme ou mesmo de isopor);
  2. Preencha o espaço vazio com enchimentos macios. Lembre-se de forrar bem o fundo da caixa, para que eventuais impactos no transporte não provoquem ruptura do frasco. Recomenda-se usar material absorvente, como papel toalha, jornal, tapete higiênico para cães e gatos, dentro outros;
  3. Coloque a solicitação em um saco plástico no interior da caixa;
  4. Embrulhe a caixa em papel pardo;
  5. Envie o pacote para:

CAIP – Centro Avançado de Imagem e Patologia Veterinária Ltda.
Rua Luiza Grinalda, 550 - Lj 04
Vila Velha – ES
CEP: 29.100-240

Atenção! Tome cuidado para não haver contaminação de vapores de formol em lâminas para citologia, o que inviabiliza o exame citológico.

ACONDICIONAMENTO DE AMOSTRAS PARA ENVIO À DISTÂNCIA – CITOLÓGICO ou LÂMINAS HISTOPATOLÓGICAS PARA PARACER

Após secar as extensões com o material colhido, colocá-las em porta-lâminas bem vedado e:
  1. Acondicione porta lâminas em uma caixa resistente (pode-se usar caixas de papelão firme ou mesmo de isopor);
  2. Preencha o espaço vazio com enchimentos macios. Lembre-se de forrar bem o fundo da caixa, para que eventuais impactos no transporte não produzam quebra das lâminas. Recomenda-se fazer uso de material macio como, papel toalha, jornal, flocos de isopor, dentre outros;
  3. Coloque a ficha de solicitação preenchida junto com o material na caixa;
  4. Embrulhe a caixa em papel pardo;

Envie o pacote para:

CAIP – Centro Avançado de Imagem e Patologia Veterinária Ltda.
Rua Luiza Grinalda, 550 - Lj 04
Vila Velha – ES
CEP: 29.100-240

Atenção! Tome cuidado para não haver contaminação de vapores de formol em lâminas para citologia, o que inviabiliza o exame citológico.

sexta-feira, 25 de março de 2011

Fixação de tecidos para exame histopatológico

A fixação é um passo fundamental do processo do exame histopatológico e ocasionalmente negligenciada. A má fixação pode impossibilitar o êxito do exame histopatológico.
O processo de fixação se baseia em manter, de modo definitivo, as estruturas citológicas e histológicas das células e tecidos, evitando a degradação do material em decorrência de fenômenos autolíticos. Permite ainda a realização de inúmeras técnicas citológicas e histopatológicas.
Há diversas formas de se fixar um tecido, sendo a fixação obtida através do uso de substâncias químicas (fixadores) a mais adequada.

O formol:

O fixador mais utilizado para histopatologia diagnóstica é o formol a 10% (aldeído fórmico), devido ao seu baixo custo e simplicidade de uso.
O formol por ser extremamente volátil, provoca irritação dos olhos e vias respiratórias.
O aldeído fórmico precipita em concentrações superiores a 40%. Desta forma, chamamos a solução de formol a 40% de "formol puro".
Como todo aldeído, o formol é instável e um dos produtos de sua degradação é o ácido fórmico. Tal ácido freqüentemente interage com a hemoglobina produzindo um pigmento acastanhado chamado de "pigmento de formol" ou hematina. O uso de solução tampão evita a acidificação do fixador, impedindo assim o aparecimento do pigmento de formol.

Como o formol atua:
 
O aldeído fórmico atua como fixador interagindo com os aminoácidos lisina e arginina. Tal fixador não provoca precipitação de proteínas, não preserva gorduras livres, porém fixa lipídeos complexos. Provoca ainda, leve precipitação de outros constituintes celulares e não é o fixador de eleição para carboidratos. A capacidade de penetração do formol no tecido varia de um a três milímetros por hora, na dependência da qualidade do material. 

Preparando o formol para fixação:

Na prática diária não se é usado a solução de formol tamponada e sim uma solução simples de formol, feita a partir do aldeído fórmico e água corrente, seguindo a seguinte diluição:

Formol puro (formol 40% P.A.).............................100 ml
Água Corrente.....................................................900 ml

Com a proibição da distribuição de formol a 40% em muitos locais de país, tornou-se comum adquirir o formol a 10% e nestes casos a regra prática é:

Formol 10% - uma parte
Água corrente – uma parte

Com esta diluição a concentração de formol será um pouco superior à anterior, sem prejudicar em nada a qualidade da fixação.

Nos locais onde há disponibilidade de confeccionar o formol tamponado, seguir as seguintes diretrizes:

Formol puro (formol 40% P.A.).............................100 ml
Água Destilada...................................................900 ml
Fosfato de sódio monobásico................................ 4,0 g
Fosfato de sódio dibásico...................................... 6,5 g

REGRAS GERAIS E PRÁTICAS PARA UMA BOA FIXAÇÃO
 
1. Fixe tecido o mais rápido possível depois da retirada;
2. Não fixe fragmentos com mais de 6 mm de espessura, pois o fixador possui capacidade de penetração lenta, se o fragmento for muito espesso haverá autólise no centro do tecido;
3. Evite: pinçar, tracionar ou manipular em excesso os tecidos;
4. Use sempre um volume de fixador superior a 10 vezes o volume da peça, por exemplo: se o fragmento medir 0,6 mm de aresta, usar pelo menos 6,0 ml de formol a 10%;
5. Se o tecido for delgado, como a parede de um órgão tubular, promova a aderência do material em um papel cartão ou abaixador de língua e então coloque em contato com o líquido fixador.
6. Fixe o material por um período de 6 a 24 horas, agitando o frasco esporadicamente;
7. Mantenha a peça sempre submersa no fixador;
8. Coloque a peça no fixador e não ao contrário. Isso evita que o material fique aderido no fundo do recipiente;
9. Use recipiente de boca larga (tipo frasco de maionese). O processo de fixação promove um "endurecimento". Não use frasco de boca estreita (frasco tipo penicilina), pois com o endurecimento da peça poderá ser impossível removê-la do frasco sem causar prejuízos ao material.

sexta-feira, 18 de março de 2011

Uso e vantagens do exame citológico em medicina veterinária

O uso das técnicas de citologia diagnóstica vem se expandido em medicina veterinária. A cada ano esta modalidade diagnóstica se difunde devido à praticidade, rapidez e principalmente devido à qualidade de resposta ao clínico e cirurgião dos processos mórbidos em seus pacientes.

A resposta dos exames citológicos enviadas ao laboratório é obtida em dois dias úteis, ao passo que exames histopatológicos, devido ao tipo de preparo da amostra, podem ter resultados liberados em até dez dias corridos. Diante disso o médico veterinário obtém, usando as técnicas de citologia, resposta diagnóstica rápida podendo direcionar o paciente para a terapia clínica, cirúrgica ou para qualquer outro exame complementar em um espaço de tempo menor.

A obtenção de amostras citológicas requer procedimentos minimamente invasivos, freqüentemente indolores, sendo de maneira geral desnecessária a tranqüilização e analgesia do paciente, tornando-se dispensável os riscos inerentes ao uso de técnicas de anestesiologia, principalmente em animais idosos, debilitados, entre outros.

Deve-se ressaltar que a citologia e a histopatologia são procedimentos diagnósticos complementares e devem ser usados em associação. Enquanto a citologia permite obter amostras de forma pouco invasiva, a histopatologia fornece a arquitetura tecidual e permite avaliar a extensão e a invasividade do processo.

Costumeiramente, na prática clínica, os médicos veterinários se deparam com resultados histopatológicos de processos inflamatórios que clinicamente apresentavam características neoplásicas. O inverso também ocorre, basta exemplificarmos com os casos de pequenos mastocitomas que apresentam edema e aumento focal de temperatura, os quais podem ser clinicamente diagnosticados inicialmente como processos inflamatórios. Desta forma, os exames citológicos são de fundamental auxilio para o clínico não submeter o paciente a um procedimento cirúrgico de simples processos inflamatórios e evitar o tratamento clínico em casos de processos neoplásicos.

Dentre os processos inflamatórios, a citologia tem valor indiscutível na visualização de agentes infecciosos, como leveduras, bactérias, protozoários (Ex.: Leishmania spp), ectoparasitas, dentre outros, produzindo o diagnóstico etiológico específico.

A difusão dos métodos ultrassonográficos ampliou sobejamente a variabilidade de lesões a serem colhidas e diagnosticadas, evitando também procedimentos invasivos de colheita.

Como toda técnica diagnóstica, a obtenção da amostra de forma adequada, assim como a preparação das extensões é a principal limitação da técnica. Amostras colhidas, fixadas e enviadas de forma adequada, garantem o processo diagnóstico. Ressalta-se ainda que determinados processos neoplásicos, como por exemplo, hemangiomas e fibromas, devido à forte coesão das células, invariavelmente são inconclusivos ao exame citológico, assim como outras neoplasias não esfoliantes.



Há três grandes modalidades de obtenção de material para exame citológico:


Citologia Esfoliativa:
Consiste em remover as células mais superficiais da lesão através de esfoliação (raspagem), sendo indicada para avaliação do processo de maturação (diferenciação) de epitélios, para caracterização de tipos de exsudatos ou para visualização de agentes infecciosos ou mesmo parasitários. Esta técnica é usada, por exemplo, na determinação da fase do ciclo estral de cadelas, de processos inflamatórios uterinos, habronemoses, etc.



Citologia por Decalque ("imprint"):
Tal modalidade também se baseia na remoção de células superficiais de uma lesão ou da superfície de corte de um órgão, através do contado da superfície em questão com a de uma lâmina de microscopia. É uma técnica muito utilizada em sala de necrópsia para confirmação diagnóstica de suspeitas levantadas à macroscopia, com resposta rápida.



Citologia Aspirativa por Agulha Fina (Punção Aspirativa por Agulha Fina):
Neste método há remoção das células da lesão pela avulsão promovida através da utilização de uma agulha fina (30 mm x 0,7 mm ou 22G). Com esta técnica podemos obter células de vários planos do tecido.
A citologia aspirativa por agulha fina é, sem dúvida, mais interessante que as técnicas anteriores, pois recolhe material muito mais representativo tanto de lesões superficiais como profundas.


Devemos seguir algumas regras básicas para obtenção de bons resultados através da citologia:

Histórico detalhado:
Estas informações são muito importantes, pois indicam o tempo de instalação do processo, como foi o início da lesão, etc.... Estes dados são muitas vezes fundamentais para determinação de diagnósticos diferenciais ou para comentários relativos aos possíveis diagnósticos.


Descrição da lesão:
Uma boa descrição da lesão, como localização precisa do processo e tipo de lesão (nodular, ulcerativa, etc.), auxilia sobejamente o sucesso diagnóstico e permite correlacionar achados citológicos com a lesão macroscópica;



Técnica de colheita:
Este é um dos passos mais importantes para realização da citologia diagnóstica. Uma técnica de colheita inadequada pode impedir a conclusão do caso, pois a amostra colhida deve necessariamente possuir células características da lesão em questão.



Extensões adequadas:
No exame citológico as extensões devem ser feitas seguindo-se os seguites cuidados:
 

a) não comprima o material - especialmente no caso de suspeitas de tumores, pois as células neoplásicas são frágeis;
b) produza extensões delgadas, evitando sobreposição de várias camadas de células, pois a sobreposição impossibilita a coloração e visualização adequada do material;
c) No caso de extensões que serão coradas por corantes hematológicos, desidrate o material, por movimentação ao ar (abane), o mais rápido possível. Não guarde as lâminas úmidas, pois isto causa degeneração celular inviabilizando o resultado.



Técnica de obtenção de material por Citologia Aspirativa com agulha fina:


Material Necessário:
a) Anti-séptico;
b) Seringa plástica descartável de 10 a 20 ml;
c) Agulhas 30 mm x 0,7 mm ou 22 G;
d) Lâminas para microscopia limpas e desengorduradas com álcool;
e) Porta lâminas;
f) Ficha de solicitação de exames.



Preparo do paciente:
Tratando-se de lesões palpáveis não há necessidade de preparos especiais para o paciente, sendo a antissepsia o único procedimento necessário.
 

Lembre-se que a antissepsia é um processo requerido na citologia aspirativa e deve ser ponderado na citologia por esfoliação, pois se deseja-se visualizar o tipo de exsudato ou agente infeccioso, estes poderão ser removidos durante a limpeza do local.


Obtenção do material:
A. Realize a contenção física do paciente de maneira adequada e promova a antissepsia;
B. Acople a agulha à seringa;
C. Fixe a lesão entre o dedo indicador e médio;
D. Mantenha o êmbolo da seringa na posição ZERO.
E. Introduza a agulha na lesão;


F. Promova uma forte pressão negativa no interior da seringa e mantenha-a;
G. Promova com a agulha movimentos de "vai e vem" na lesão e em diversos planos diferentes, mantendo a pressão negativa;

   



CUIDADO: Se por acaso, a agulha sair da lesão, descarte esta agulha e recomece o procedimento escolhendo outro ponto para punção.




ATENÇÃO: Sangue no canhão da agulha ou na seringa não deve ser encarado como sinônimo de boa colheita, pois elementos sangüíneos podem diluir as células que representam o processo.

H. Solte o êmbolo da seringa desfazendo a pressão negativa;
I. Retire a seringa e agulha da lesão;
   

J. Desacople a agulha da seringa;
K.
Preencha a seringa de ar e acople novamente a agulha;
L.
Com o orifício do bisel da agulha voltado para lâmina de microscopia, empurre vigorosamente o êmbolo depositando o conteúdo contido na agulha contra esta. Faça isto na porção central ou em um dos quartos da lâmina;


ATENÇÃO: O material contido na agulha é suficiente para o diagnóstico. A presença de sangue no material causa diluição da amostra, muitas vezes tornando o exame inconclusivo.

M. Promova a extensão encostando uma lâmina extensora à 45º;




N. Não estenda o material até o final da lâmina.    

Outra forma de obtenção de material é a técnica por capilaridade. Usando como base o que foi descrito anteriormente, fixe o tecido a ser puncionado entre os dedos e penetrá-lo com a agulha de calibre "7". Sem retirar a agulha da lesão, movimentá-la em diversas direções com golpes rápidos e vigorosos. Retirar a agulha do tecido. Acoplar a agulha em seringa plástica de 10 ml, previamente preenchida com ar e aspergir o material sobre lâmina e realizar a extensão.



Boa Colheita !
 



As imagens contidas nesta publicação foram extraídas de http://www.labvet.com.br/html/conteudo_informacoes_citologia.htm
, sendo a referida página também escrita por este autor. Não há proibição de uso de imagem no site original.