A citologia retal tem sido de grande valia para o diagnóstico
de doenças do trato gastroentérico dos cães e gatos, com ou sem diarreia
associada.
O procedimento de esfoliação retal é simples, fácil e
rápido, permitindo ao clínico a confirmação ou exclusão de uma determinada enfermidade,
ou mesmo a colheita de novos dados que contribuam no diagnóstico e na
terapêutica.
O alvo da colheita, nesta modalidade de exame, é
principalmente a lâmina própria da mucosa, onde se encontram os tipos celulares
que auxiliarão na conclusão do processo. Deve-se ressaltar que as estruturas
esfoliadas da camada epitelial da mucosa também contribuirão no processo diagnóstico,
assim como a microbiota colhida e eventuais parasitas.
Existem algumas formas para a colheita de amostra da mucosa
retal, algumas usando abaixadores de língua, hastes plásticas rígidas e curetas
delicadas. Em qualquer forma de colheita devemos lançar mão de etapas
facilitadoras e certos cuidados, como:
a – limpeza do reto antes de colher a amostra, o que pode
ser obtido após a defecação ou por remoção mecânica. Não utilizar qualquer tipo
de enema. Animais com quadros entéricos graves tendem a ter o cólon “limpo”,
devido ao aumento da frequência de defecação ou por não conseguir a formação de
bolo fecal. Nestas últimas situações, de certa forma, há uma facilitação na
obtenção do material, uma vez que não haverá necessidade da remoção do bolo
fecal.
b- Evitar o uso de lubrificantes, pois estes atrapalham a análise
citológica. Pode-se usar pequenas quantidades de solução fisiológica como
agente lubrificante.
c- Usar instrumento que sabidamente esfolie a mucosa sem
causar trauma e neste casos sugerimos o uso de escovas endocervicais de boa
qualidade, com ponta aramada romba, como àquelas usadas para colheita de
“Papanicolau”.
d- Não colher amostra do ânus; o cólon é que deve ser atingido!
e- A esfoliação deve ser firme o bastante para obter a
amostra, porém não firme o bastante para causar perfurações do cólon! CUIDADO!
f- Proteger o material esfoliado para que ele não fique
retido no cólon ou ânus. Para tanto pode-se usar o dedo enluvado, inserido no
reto, com a finalidade de criar uma barreira.
Como alternativa para o inconveniente da perda a amostra
pós-colheita, idealizamos um método que se tem mostrado eficiente e consiste em
produzir uma cânula a partir de uma seringa plástica de 1,0 a 3,0 ml.
- A porção contrária ao êmbolo, ou seja, onde se encaixaria a agulha na seringa, deve ser removida e arredondada ao fogo, para remover as possíveis arrestas cortantes. O uso de lixa de unha pode ser útil ao invés do tratamento térmico.
- Produzida a cânula esta será introduzida no cólon através do ânus e para tanto se pode diminuir o atrito da cânula com auxílio de uma pequena quantidade de solução fisiológica.
- A escova ginecológica (para colposcopia) será inserida pela cânula atingindo a luz do cólon.
- Produzir obliquação da cânula, aproximadamente 30°, para maior contato da escova com a mucosa e fazer movimentos de rotação para produzir esfoliação.
- Recolher a escova para dentro da cânula e remove-la.
- Proceder com as extensões em lâminas de vidro, com movimentos de rolamento das cerdas sobre a superfície das mesmas.
- Secar rapidamente ao ar e guarda-las e recipiente apropriado.
- Não refrigerar de forma alguma o material obtido, pois ao removê-las do refrigerador poderá haver condensação da umidade do ar nas superfícies, criando artefatos citológicos.
As extensões assim obtidas permitem observar, além da
morfologia da microbiota, desequilíbrios desta população, células inflamatórias
como neutrófilos, células mononucleares, eosinófilos e ocasionais agentes
infecciosos com morfologia específica como Campylobacter
ssp, amebas, Balantidium sp,
trofozoítos e cistos de Giardia ssp, Tritricomonas sp, etc.
Desta forma, este exame simples e rápido pode oferecer
grandes vantagens ao clínico, uma vez que haverá a possibilidade de instituir
tratamento específico ou de suporte de forma rápida e segura.
